Nota de apoio CRM-ES e AMES para reabertura prioritária das escolas
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) e a Associação Médica do Espírito Santo (AMES) vêm a público se manifestar a favor do retorno às aulas presenciais no Estado. O CRM-ES e a AMES reiteram a importância de que as decisões em relação à reabertura das escolas sejam tomadas embasadas em critérios técnicos e científicos e que sejam levadas em consideração as consequências de seu fechamento por tempo tão prolongado.
A COVID-19 é uma infecção respiratória causada pelo SARS-CoV-2, um novo Coronavírus que se disseminou de forma epidêmica e atingiu rapidamente todos os continentes terrestres, sendo declarada como pandemia em março de 2020, pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Apesar do número de casos e mortes que temos enfrentado pelo novo coronavírus, não só no Brasil, mas no mundo, crianças são significativamente menos suscetíveis à Covid-19. As crianças e adolescentes, de forma geral, apresentam quadros mais brandos, com gravidade notadamente menores do que na população adulta.
Estudos evidenciaram que crianças menores de 10 anos são menos susceptíveis à infecção pelo SARS-CoV-2 do que adolescentes e adultos e há estudos mostrando que é pouco provável que crianças sejam as fontes primárias de infecção nos domicílios, contrariamente ao que se observa em outras infecções de transmissão respiratória.
No entanto, em março de 2021, quando tivemos recordes de mortes pela COVID -19 em nosso Estado e país, a opção novamente foi de fechamento das escolas e suspensão das aulas presencias.
Crianças e adolescentes brasileiros têm o direito a cuidados qualificados e eficazes assegurado pela Constituição Federal, sendo dever do Estado e da Sociedade prover mecanismos para que os recursos a eles direcionados sejam otimizados em seu benefício.
Sabe-se que ausência de aulas presenciais prejudica o desenvolvimento socioemocional, bem como repercute de forma negativa no desenvolvimento de habilidades sociais que demandam modelagem de grupo e que só ocorre quando crianças estão com outras crianças da mesma faixa etária, sob mediação de um adulto, no caso, o professor.
Crianças em situação de maior vulnerabilidade social têm menos acesso à educação a distância de qualidade e sofrem mais com o fechamento de escolas. Com a suspensão de aulas presenciais, crianças da rede pública estão sem merenda escolar, que muitas vezes representa a principal refeição do dia. As mulheres têm um comprometimento significativamente maior da atividade profissional, considerando-se, ainda, que as famílias brasileiras monoparentais são de predomínio matriarcal, o que contribui com as já enormes desigualdades sociais e de gênero no Brasil.
Outra preocupação é com relação ao aumento dos episódios de violência doméstica contra as crianças (física, psicológica e sexual), observado desde o início da pandemia devido ao isolamento social, a mudança das rotinas familiares e insegurança econômica. As escolas e os professores são sentinelas na identificação, mediação e notificação dos casos suspeitos, tendo papel fundamental na proteção das crianças e adolescentes.
Crianças e adolescentes portadoras de deficiência estão mais propensas a aumento de irritabilidade e ansiedade e suas famílias estão mais suscetíveis ao adoecimento psíquico devido o ambiente tóxico no qual estão inseridos.
A utilização excessiva de dispositivos de tela (celulares, tablets, computadores etc.) estão afetando o desenvolvimento neuropsíquico, a visão, a audição, o sono, a alimentação, aumenta a incidência de obesidade (devido ao sedentarismo) e dificuldade de socialização.
Entendemos que a educação deveria ser considerada atividade essencial e como tal deveriam ser os últimos a fechar e os primeiros a abrir.
Com os protocolos bem estabelecidos para adoção de medidas de prevenção, a escola torna-se um local seguro para os professores e funcionários, que compreendem e são completamente capazes de cumprir as medidas necessárias para a mitigação do contágio, e para as crianças.
Salientamos, ainda, o posicionamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), da Sociedade Espiritossantense de Pediatria (SOESPE) e da Sociedade de Infectologia do Espírito Santo (SIES), que recomendam o retorno presencial das atividades escolares.
Diante do exposto, o CRM-ES e AMES se manifestam favoravelmente à reabertura das escolas e retorno das aulas presenciais e solicita que a decisão de suspensão das aulas seja reconsiderada pelas autoridades competentes.
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